Por Letícia Vidica
Sabe quando reaparece do nada aquele cara que você ficou, mas que desejou nunca mais encontrar na vida porque não passou de um momento de loucura ou '´pé na jaca' total...o que fazer?
- Di, é impressão minha ou aquele cara está dando 'tchauzinho' pra você?! - perguntou a curiosa da Betina
Imediatamente, parei de deliciar o meu sorvete de creme e olhei. Afinal, não é todo dia que um cara dá mole assim pra mim. Olhei e me arrependi na hora de ter olhado.
- Você conhece ele?! Incrível como as amigas ao invés de ajudar nessa hora, só atrapalham.
- É... é... - engasguei.
Acho que ele tinha meio metro, devia bater na minha cintura ou talvez no começo dos meus seios. Sua barba mal feita escondia a sua boca. O cabelo seboso exalava o cheiro de cebola. A calça pula brejo deixava à mostra suas meias vermelhas e o seu jeito destrambelhado não tinha como esconder...
- José Otávio?! Você por aqui...
- Oi, frozinha! Que bom te ver...cê nunca mais apareceu...
- É... sabe como é né...ah, essa é minha amiga Betina
- Prazer, José Otávio! - disse a minha querida amiga com ar de ironia e medindo o pobre homem dos pés à cabeça.
- Mas o que você faz aqui em Sampa?
- Arrumei um trabalho ali naquele restaurante... sou o cozinheiro de lá...aparece aí qualquer dia ... faço aquela rabada que você tanto adora...
- Ah, pode deixar...
- Mas me deixa seu telefone... tô perdidão aqui na cidade... 'cê pode me apresentar umas coisa qualquer dia...
Não sei porquê dei o meu número certo. Ele anotou e saiu com aquele andar de Jeca Tatu. Betina me olhou com aquele olhar maligno e antes que ela destilasse o seu veneno, comecei a falar...
- Antes que você pergunte, Betina, eu falo ... o José Otávio... é... bem... a gente... é ... eu fiquei com ele! - pronto falei!
- Não posso acreditar que você ficou com aquele cara... amiga, eu sei que homem ta difícil, mas vamos selecionar né?
- Ai, Be, foi num momento de fraqueza, loucura, sei lá... eu viajei para casa dos meus tios em Minas e conheci o Zé numa dessas voltas super animadas na praça...passeio típico de cidade do interior... acabei cedendo...mas eu jamais ia imaginar que ele ia aparecer aqui um dia...
- Pisou na jaca geral! Se eu fosse você, teria vergonha de contar essa história...
- Poxa, Be, vai dizer que nunca deu dessas?
Pausa: antes que você também me crucifique, amiga, faça um momento de reflexão em sua vida. Confesse, você também já enfiou o pé na jaca e ficou com aquele cara que desejou nunca mais encontrar na vida. Mulheres também têm seus momentos de loucura, caridade ou o que seja. O José Otávio foi um desses momentos!
- E aí encontrou o caipira, Di?
- Poxa, você é fofoqueira mesmo hein Betina? Já foi destilar seu veneno para a Lili?
- Opa! Eu sou amiga também... e te entendo perfeitamente...
- Entende,Li?
-Claro... eu também já fiz umas loucuras dessas ... sabe o Jorgão?
- Aquele cara nojento do seu prédio?
- Esse mesmo... eu não contei pra vocês...mas a gente saiu outro dia.
- Não, isso já é demais...o Jorgão? Meninas, vocês acharam suas bocas no lixo?
- Be, pára de bancar a moralista, confessa...
- Eu nunca fiz isso. Sempre selecionei as pessoas com quem deveria me relacionar...
- E aquele pinguço que você deu uns amassos outro dia na balada hein?
- Ah, Lili, ele era bonitinho...
- Tava escuro e eu bem vi ele caído na sarjeta no fim da festa. Nos olhamos e começamos a rir. Passamos o resto da conversa a confessar os 'tipinhos' com os quais a gente ficou e sonhava nunca mais rever. Pena, que o meu pedido não foi atendido rapidamente...
- Alô? É da casa da Diana?
- É, sim. Quem fala? É ela mesma.
- Oi, frozinha. É o José Otávio. Não podia ser. Tudo o que eu menos queria naquela sexta-feira à noite era receber um telefonema do José Otávio. Mas eu estava no meu inferno astral.
- Oi, Zé...
- Desculpa te ligar assim...mas é que eu queria saber se você não ta afim de dar uma volta...
- Sabe o que é Zé... to com a maior cólica...não vai rolar...desculpe.
- Tudo bem!
Achei que tinha me livrado do Zé. Mas ele passou a me ligar todos os dias. Cada hora com uma desculpa diferente: uma hora era para sair, outra hora para conversar, outro dia para que eu ensinasse o caminho de algum lugar... foram 15 dias de pura encheção de saco. Ele era duro na queda! Se não bastassem os meus foras, num sábado pela manhã, quando eu saía para caminhar, adivinha quem estava parado na porta do meu prédio com uma rosa na mão? O Zé!
- Oi, frozinha... é pra você
- Obrigada, Zé...mas como você descobriu onde eu morava?
- Tenho te seguido todos os dias... Diana, preciso confessar...desde aquele nosso beijo na praça, não consigo parar de pensar em você... foi Deus que fez com que eu te reencontrasse....
- ´Peraí, Zé...aquilo foi só um beijo e além do mais faz dois anos já!
- Mas pra mim foi muito mais...e você não vê como a gente combina?
- Zé, escuta aqui... eu odeio fazer isso, mas vou ser obrigada... a gente não tem nada a ver e nada em comum...posso ser sua amiga numa boa...mas não vai passar de amizade ... sei que a gente ficou, aconteceu...mas foi só isso...
Ele abaixou os olhos tristonho. Me senti uma bruxa de contos de fadas, porém não tinha outro jeito de tirá-lo da minha vida. Ele pegou minha mão, beijou suavemente, beijou meu rosto, virou as costas e saiu andando... pra onde ele foi eu não sei...só sei que o Zé nunca mais apareceu na minha vida... depois dele passei a ser mais criteriosa (às vezes)
Papo de calcinha: E você já enfiou o pé na jaca também?
Faça parte da nossa comunidade:
Nenhum comentário:
Postar um comentário