sexta-feira, outubro 04, 2013

ENCONTRO DO ACASO


POR LETÍCIA VIDICA

- Diana? – assustei-me ao reconhecer aquela voz que me chamava (ou melhor, gritava meu nome) na porta do restaurante japonês.

Eu não teria ficado tão tremula e sem graça se não fosse o Pierre. Tudo que eu menos queria naquela noite estrelada e calorosa de sexta-feira era encontrar o meu ex-namorado. E tudo que eu menos queria naquela noite que teria que ser maravilhosa ao lado do
Pedro era encontrar o meu ex-namorado, que eu não via há um tempão, ao lado da sua digníssima esposa.
Sei que a nossa história é complicada e que muuuita coisa já aconteceu e sei que eu amo o Pedro, mas (re)encontrar ex-namorado é sempre um encontro um tanto quanto estranho, ainda mais quando se tem terceiras partes envolvidas.

- Oi, Pierre! Oi, Olivia! – respondi ainda sem graça e acho que minha voz não conseguiu disfarçar tão bem. – Que coincidência a gente se encontrar aqui não é mesmo? – emendei ao final de dois beijinhos cordiais no rosto da Olívia.

- Ah, nem tanto, Di. Afinal, a gente adora comida japonesa, ne? – respondeu ele, resgatando uma certa intimidade desnecessária.

- Senhores, temos uma mesa disponível para quatro. Aceitam? – perguntava o gentil do garçom olhando para os casais, pensando (obviamente) que éramos melhores amigos. Eu quase quis socar a cara dele, mas o coitado não tinha culpa nenhuma do rolo que era a minha história amorosa com o Pierre.

- Por mim, tudo bem. Se não se importarem de jantar com a gente.

Rapidamente, a fúria que eu sentira pelo garçom foi transmitida para o Pedro. Como assim ‘eu não me importo?!’, mas eu me importo sim. Essa é a nossa noite. A última coisa que eu quero é ter o Pierre sentado na minha mesa. Respirei fundo, sorri cordialmente para o Pedro com aquele olhar de ‘conversaremos sobre isso mais tarde’ e entramos no restaurante. O ronco do meu estômago também não estava nem um pouco afim de esperar mais.

- E como foi de viagem, Pedro? Voltou para ficar? – perguntava Pierre num tom suspeito de investigação.

- Digamos que sim. – respondia Pedro calmamente com o interrogatório – Na verdade, vim a negócios profissionais e pessoais...- dizia ele olhando para mim e emendando um abraço, como quem marca território.

- Entendo, entendo...sei bem como são esses negócios. – respondia Pedro, como quem quisesse dizer que já tinha trabalhado muito nos meus negócios.

- E como vai a bebê, Olívia? – desconversei e tentei ser simpática com a Olívia. – Deve estar enorme não é mesmo?

- Tá uma pestinha, Diana, mas é uma fofa. Deixamos ela com a babá. Só assim para ter um momento mais romântico com meu amoreco ne? – dizia ela, abraçando o Pierre.

Aquela cena patética de marcação de território foi interrompida pelo mesmo garçom que ofereceu a mesa, trazendo as nossas comidas. Dessa vez, confesso que quase beijei o homem na boca. Ele tinha me salvado de uma.

Comemos falando de coisas banais e tentando quebrar aquele gelo estranho que estava no ar. Num desses momentos de silêncio, resolvi ir ao banheiro para respirar um pouco. Mentira! Escapei para mandar uma mensagem no celular da Lili e da Betina para contar o apuro que eu estava passando, mas antes de finalizar o torpedo fui pega pela Olivia.

- Acho que bebi saquê demais. – ela dizia, enquanto retocava a maquiagem no espelho.

- Nossa, nem fala.

- Fico feliz que tenha voltado com o Pedro. Vocês formam um belo casal.

Me espantei com a declaração, mas sorri cordialmente.

- Ele é uma ótima pessoa mesmo. A gente está tentando.

- Bom ver um casal que se dá bem ne? – dizia ela num tom de quem estava prestes a desabafar.

- Você e o Pierre também parecem se dar muito bem. – emendei.

- É, a gente tá tentando. Acabamos de sair de uma crise séria e estou dando mais uma chance. Inclusive, esse jantar é uma das coisas que eu impus pra ele.

Tá virando moda ou o que? Primeiro, a mulher vem desabafar comigo na despedida de solteiro, depois no casamento e agora?!

- Todo mundo merece uma chance, não é mesmo? Vamos voltar? – despistei. Eu não estava afim de bancar a terapeuta da Olívia novamente.

Quando voltamos para a mesa, o Pierre e o Pedro pareciam melhores amigos. Estavam às gargalhadas. Eu e Olivia olhamos sem muito entender, mas nos inserimos no assunto e a noite, incrivelmente, fluiu bem. Sem aquela atmosfera estranha do inicio.

***

- Que tanto você e o Pierre riam lá na mesa? – perguntei ao Pedro enquanto a gente voltava para casa.

- Ele é um palhaço, mas é gente boa. – respondia Pedro.

- Quem te viu, quem te vê ne? Você e o Pierre tão amiguinhos... – desdenhei.

- E o que é que tem? Isso te incomoda? – perguntou Pedro naquele tom de quem iria me interrogar e que ia reverter o jogo.

- Não. Nenhum um pouco. Prefiro assim. – menti. É claro que aquilo me incomodava! Mas, às vezes, é necessário omitir algumas coisas para evitar confusões.

***

Não sei por qual motivo, aquela noite não saía da minha mente. Aquele encontro e as declarações da Olívia me corroíam a cabeça. Ainda bem que eu ia me encontrar com as meninas para desabafar.

- E eu que achei que o Pierre já tinha mudado de planeta... – dizia Betina com desdém ao me ouvir contar do encontro.

- E a piriguete da Olívia? – perguntava Lili

- A Olivia se comportou bem. Até desabafou comigo no banheiro. Veio dizendo que estavam em crise, elogiando a minha relação com o Pedro...

- Ih, nega, cuidado hein! Ela já te tirou o Pierre e pode muito bem tirar o Pedro!

- Credo, Betina! Vira essa boca pra lá! Não é pra tanto, mas é melhor ficar esperta. – dizia Lili

- Será? Sabe que isso nem me passou pela cabeça? E vocês não sabem da última. O Pedro e o Pierre ficaram conversando como melhores amigos. E o Pedro até me disse que o Pierre é gente boa e achou ruim quando eu me assustei com isso, mas eu disfarcei e fingi que estava tudo bem. Mas é ob-vio que eu odiei essa amizade ne?

- Acho bom manter distância. Esse casal é perigo. E você não pode dar mais motivos para o Pedro desconfiar de você ou querer ficar resgatando história do tempo da arca ne?

A Betina estava certa. A melhor coisa era não dar corda para aquela história. Fácil se o Pierre não tivesse ido me procurar. E foi o que aconteceu na segunda-feira, quando eu saía do meu trabalho. Fui surpreendida pelo Pierre na porta do meu prédio.

- O que você tá fazendo aqui? – perguntei assustada, olhando para o lado com medo de ser flagrada.

- Eu queria te ver. – respondeu ele com a maior naturalidade do mundo.

- Ué, a gente já se viu na sexta. Esqueceu? Eu tenho que ir embora.

- Calma! Eu sei. Mas na sexta foi diferente. Eu estava com a Olivia, você com o Pedro e a gente nem conversou direito. – dizia
ele se aproximando de mim.

- A gente conversou tudo que tinha que conversar, Pierre. Não inventa, por favor. Não me arrume mais problemas. Eu preciso ir, de verdade. – ameacei sair.

- Um café! Só um café? Como amigos? – implorava ele com aqueles olhinhos de gato siamês.
Não sei como e por qual motivo, mas aceitei o tal café. Era um só e mais nada! Eu prometi isso para mim.

- Você continua linda ne? Não muda nunca!

- Obrigada! – respondi sem graça.

- Adorei te encontrar lá na sexta. Mesmo com o Pedro. Vocês estão juntos?

- O que te importa hein? – respondi grosseiramente.

- Calma, bravinha. To perguntando numa boa. Vim em missão de paz mesmo. Relaxa!

- Tá, ok! A gente tá junto sim. Você já aprontou tantas que eu estou vacinada de você, seu Pierre.

Caímos na gargalhada e, ao final dos risos, ficamos nos olhando. Sabe aquele silêncio nostálgico? Antes que a nostalgia reinasse, o meu celular tocou. Era o Pedro. Olhei para o visor e para o Pierre.

- Pode atender. Não vai deixar ele esperando. Só não dizer que tá comigo.

Até engasguei para atender, depois daquela declaração do Pierre. Quem te viu quem tevê? Despistei o Pedro falando que eu estava num happy hour com as meninas do trabalho e que a gente se encontraria depois. Fiquei muito mal em mentir para ele, ainda mais por causa do Pierre, mas não tive escolha.

- Não posso demorar, Pierre. Eu não quero envolver o Pedro nisso novamente.

- Fica tranquila. Eu te prometi um café. Você ainda não terminou o seu, não é mesmo?

- E como vai a vida de casado? A filhota...

- A minha princesinha é demais. Apesar da forma que ela veio ao mundo, foi a melhor coisa que me aconteceu na vida. Mas a vida de casado não está tão legal assim... a Olívia é uma ótima mãe, mas acho que não rola mais entre a gente, entende?

- Mas vocês pareciam tão felizes lá no restaurante... – disfarcei fingindo que já não sabia do rolo todo.

- A gente tá tentando, sabe? Mas, no fundo, eu acho que nunca mais vou encontrar alguém como...

- Pronto! Terminei. Eu realmente preciso ir, Pierre. – interrompi ele, antes que completasse a frase. Eu não estava afim de ouvir a mesma conversa. Eu já sabia o final da história.

- Espero de verdade que vocês se entendam e formem uma família muito feliz, viu? – abracei o Pierre como uma grande amiga e dei um beijo na bochecha dele.

- Você sabe que é muito especial para mim, né? – respondeu ele segurando meus braços e olhando no fundo dos meus olhos.

- Não mais do que a sua princesinha. Te cuida.

Virei as costas e me controlei para não olhar para trás. Encontrar o Pierre sempre mexia comigo. E aquele encontro, mais uma vez, mexeu comigo. De uma forma estranha e diferente, mas mexeu. Pensar que um dia eu jurei amor eterno para ele, acreditei que seríamos felizes e agora era eu quem desejava que ele fosse feliz, mesmo depois de tudo que ele me aprontara. É, meninas, a vida é mesmo muuuito engraçada.

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ JÁ SE TEVE ALGUM ENCONTRO COM EX ASSIM? CONTA PRA GENTE!

5 comentários:

Lila Sances disse...

Le,
Tenho várias histórias, porém não tão emocionantes dentro deste contexto.
Assim, resolvi apenas deixar registrado o meu encanto por seus textos e uma definição para todo o sofrimento de tantas Dianas, Lilis e Betinas. O problema é que estamos vivendo sentenciadas ao "Eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também.Não crie expectativas"...
Me pergunto:Como se relacionar e não criar expectativas?
Até mesmo entre amigos criamos sonhos, desejos... quem dirá em um relacionamento Homem x Mulher (e suas variações).
Acho vazio tudo isso, mas devemos nos adaptar para sobreviver e a melhor arma para este paradoxo é estar cercadas de amigas.Amigas animadas, desanimadas, iludidas, alegres, bonitas, inteligentes e dispostas a enfrentar os canalhas!!
E lógico, amigas que acreditam fielmente que o "Príncipe" ainda está por vir...não em um cavalo Branco, mas em um belo jatinho(quem sabe?)...rs*
Um abraço.

Letícia Canela disse...

Sinto algo por uma cara. Não sei explicar o que é. Não é amor, ou eu não seria capaz de amar outros caras, acredito. É pior. É uma atração sem jeito e sem sentido! Eu posso ser a mulher mais feliz do mundo com o príncipe mais incrível, mas sinto que pra sempre eu vou olhar pra ele e sentir que a gente se precisa. Já tive fases de aborrecimento, de afastamento, mas a gente sempre volta ao mesmo ponto... atração. É irracional, tolo, até feio é. Mas o que posso fazer? É incontrolável. É irresistível.

Eu entendo o sentimento da Diana pelo Pierre. Mas assim como eu, ela precisa se libertar disso pra se deixar ser feliz de verdade.

Fico feliz em me identificar com seus textos, Letícia. Continue, por favor! :)

Letícia C'Canela disse...

Ah, esqueci de comentar:

"- Entendo, entendo...sei bem como são esses negócios. – respondia Pedro,, como quem quisesse dizer que já tinha trabalhado muito nos meus negócios."

Letícia C'Canela disse...

A frase que eu destaquei, não teria sido o Pierre que que disse?

Ana Cláudia Marques disse...

Tem ex que é assim mesmo, quando vê que a pessoa está feliz com mais alguém resolve empatar e jogar areia. Esse Pierre é de morte...