sexta-feira, abril 12, 2013

ROTINA




POR LETÍCIA VIDICA

06h30. O despertador toca. Que musiquinha chata! Eu sempre prometo a mim mesma que vou trocar a música do despertador do celular, mas sempre esqueço e só relembro a minha promessa quando ele toca essa musiquinha chata. Ok. Eu já ouvi! Ainda tenho uma folguinha e o soneca vai me acordar. Viro para o outro lado da cama e esqueço da vida. Meu nome, que dia é hoje e que eu tenho que trabalhar.

07h00. Meu Deus! Estou atrasada. O despertador tocou? Eu juro que ativei o soneca. Quase sempre sou surpreendida por isso também. Levanto correndo, tropeçando nos meus passos e zonza de sono. Corro para o chuveiro. Tudo tem que ser milimetricamente calculado, mas todo dia é sempre igual.

Depois do banho, começa a saga da roupa. Eu tenho costume de pensar na noite anterior o que vou vestir no dia seguinte. O problema é que, quase sempre, no dia seguinte eu nunca acho alguma peça que eu escolhi. Ai, meu Deus, cadê aquela camisa? Eu jurava que eu vi essa bendita aqui no meu guarda-roupa. Desmonto o meu armário inteiro. Peça para lá, peça pra cá e nada de achar a tal da blusa. Até que algum anjo me faz lembrar que ela está para passar.

Caramba! Quase 8h. Cama desarrumada, guarda-roupa revirado (mais um sinal de que preciso parar esse final de semana para arrumá-lo). Sem escolha, visto uma roupa qualquer. Ai, não estou me sentindo bem, mas o relógio me olha feio e diz em alto e bom som que não temos tempo para sentir nada. Ops! Mas essa bolsa amarela não está combinando com a minha blusa. Rapidinho passo as tralhas, carteira, papel, guarda-chuva e tudo o mais de uma bolsa a outra.

Em direção à saída do meu apartamento, organizo uma coisa e outra pelo caminho. Pego um iogurte na geladeira para beber elevador abaixo. Falando em elevador, é um inferno espera-lo de manhã. Horário de pico no prédio. Congestionamento nos andares. Inquieta, aproveito para ir desembaraçando o meu cabelo e adiantar a maquiagem que, por conta do meu atraso, nunca consigo fazer com calma.

Minutos intermináveis depois, o elevador chega e sou surpreendida por quase todo o meu prédio que me olha espantado ao me ver passar o rímel. Disfarço e procuro um espaço naquela sardinha ambulante. Como não sou de muito papo pela manhã, esboço apenas um sorriso para não parecer antipática. Sempre bom manter a política da boa vizinhança, mas tem sempre um abençoado bem humorado que fala pelos cotovelos assassinando o silêncio tão precioso das manhãs.

****

Simbora enfrentar a parte mais saborosa do meu dia: o congestionamento. Ligo o rádio numa estação que toca notícias e nada mais deprimente do que ser bombardeada de informações sobre quantos morreram na noite passada, sobre mais uma promessa política (que jamais será cumprida), sobre mais um acidente e sobre mais um dia de quilômetros e quilômetros de congestionamento. Daí, começo a pescar uma estação e outra pelo rádio. Paro sempre naquela que costuma tocar nos consultórios de dentistas. Uma musiquinha mais leve para começar o dia. Quase sempre são sempre as mesmas músicas, mas cantarolo mesmo assim.

Anda. Para. Acelera. Para. Dá a seta! Tirou carta à distância? Tento ser calma no trânsito, mas a folga das pessoas me transforma. E é assim durante uma hora e meia de pura diversão no trânsito. Aproveito para dar uma olhadinha nas minhas redes sociais, consultar e responder os e-mails da empresa que já lotam minha caixa postal e atender sempre uma ligação de alguém da agência avisando sobre uma reunião surpresa. É de propósito. Por que as reuniões surpresa só acontecem quando eu estou atrasada?!

***

Ainda bem que posso me dar ao luxo de abandonar o meu carro com o manobrista. Se não o meu atraso seria maior. Desço correndo, cumprimento o seu João educadamente que sempre elogia as minhas roupas (mesmo no dia que me sinto a pior das mulheres). Pareço política cumprimentando Deus e o mundo até chegar ao elevador e tentando achar o meu crachá na bolsa (que sempre se perde no triângulo das bermudas que existe dentro delas).

O mesmo congestionamento do elevador meu prédio, também enfrento no meu trabalho. Mas aqui não são minutos intermináveis. São anos. E subir de escada é inviável: eu trabalho no 30º andar. Ufa, chegou! Bem na hora que meu celular toca e posso ver que é alguém da agência me ligando. Ignoro a ligação e rezo para que subir 30 andares seja rápido. Sempre alguém repara a minha pressa e é sempre algum parente do meu vizinho abençoado que desata a conversar. Será que não dá para perceber que eu estou atrasada demais para conversa?!

***

Entro na agência desesperada, mandando bom dias coletivos. Jogo minha bolsa na minha sala e minha secretária já me acompanha relatando todas as ligações, missões e me alertando sobre o bom humor do chefe. Dou uma paradinha e uma respiradinha inspiradora na porta da sala de reuniões e entro com o meu melhor sorriso de comercial de creme dental. Cumprimento a todos, finjo ignorar a cara de diarreia do meu chefe e sua olhadinha sutil para o relógio (como quem me cobra pelo atraso). Coloco a culpa no trânsito e ganho a maioria que também desata a reclamar como o trânsito dessa cidade está cada dia mais caótico.

Depois de estabelecida tento me concentrar. É mais uma daquelas reuniões que começam no café da manhã e só terminam no jantar. Discussões, estabelecimento de metas, cobranças, cobranças e mais cobranças. Conclusão: quase sempre nenhuma. Mas todo mundo finge que entendeu e sai com cara de paisagem.

Como a reunião me consome quase toda a manhã, a velha e boa saída para o almoço é um lanchinho rápido. Aproveito para comer na minha mesa mesmo enquanto respondo aos trilhões de e-mails que lotam a minha caixa postal. Entre um email e outro, uma ligação da minha mãe para contar mais um problema de casa (ou melhor, mais uma que meu irmão aprontou), outra ligação da Betina marcando algum happy hour para a semana, uma ligação da Lili choramingando pelo Tavinho e sempre finalizo com uma ligação do meu chefe chamando para mais uma reunião. Dessa vez, uma videoconferência. Haja, reunião. Que tanto as pessoas gostam de se reunir?

Mais uma tarde inteira afogada em uma reunião. Resultado: vou sair mais tarde do trabalho. Até porque acumulei várias coisas que a tal reunião não me deixou fazer e tenho que entregar o esboço de uma super campanha que acaba de ser criada nessa reunião.

***

21h30. Afogada e concentrada em trabalho sou interrompida pelo silêncio na agência. Meu Deus! Com toda a educação, a faxineira entra na minha sala e pergunta se não me incomodo se ela limpar por ali. Hora de ir para casa.

A única vantagem da volta é que vou fugir do congestionamento do elevador e das ruas. O trânsito é outro. E, no meio do caminho, meu estômago anuncia que a última refeição que fizemos foi o almoço. Hora de comer. Ops! Lembro que a geladeira está vazia. Bora parar no supermercado para fazer umas comprinhas rápidas.

... rapidez que dura quase uma hora e meia. Aproveitei e fiz logo a comprinha do mês e proporcionei um rombo na minha conta quando vejo o total na telinha do caixa.

23h30. Chego em casa acabada e mergulhada em sacolas. Preparo um lanchinho e me jogo no sofá, mas não posso me dar ao luxo de dormir porque tenho um projeto para terminar. Mergulho minha carinha e minha mente (nada) criativa a essa altura da noite na frente da telinha do meu notebook e entro madrugada afora.

02h30. Não sei mais o meu nome, quem eu sou e o que estou fazendo acordada àquela hora. Projeto finalizado. Me jogo no chuveiro para tirar a sujeira e o cansaço do dia. Sou levada pelo meu corpo inconsciente para a cama e apago. Amanhã, 06h30, começa tudo de novo e vai ser sempre assim.

PAPO DE CALCINHA: TODO DIA É SEMPRE TUDO IGUAL PARA VOCÊ? QUAL É A SUA ROTINA?

2 comentários:

Flávia Pan disse...

Me identifiquei muito no seu texto quanto ao soneca do celular, à sair de casa no limite do horário, à pressa (e educados xingamentos) até chegar ao escritório...sim, isso é todo dia sempre igual. e as metas pra no dia seguinte acordar mais cedo também!!!rs

Mirella G disse...

rsss.. de fato é assim mesmo, insisto em dormir mais 10 minutinhos, que me atrasa toda, sem café da manhã digno, roupas escolhidas as pressas.. terrível..