quarta-feira, março 21, 2012

A VIAGEM - PARTE II



POR LETÍCIA VIDICA


Depois de enfrentarmos um congestionamento de pessoas no porto da cidade e de quase sermos enganadas pela tiazinha que nos vendeu o ticket, mas só esqueceu de avisar que não tinha barco – mas que não contava com a nossa advogada de plantão, Betina, que foi logo defendendo os nossos direitos – chegamos ao paraíso. Uma ilha rodeada por um mar com os mais variados tons de azul, que chamei de mar de gelatina, todinho para gente. Ali tive a certeza de que o paraíso é na terra e que eu já tinha garantido a minha vaga por lá.

- Meninas, que lugar é esse!!! Só vocês mesmo... nem sei como agradecer... – eu maravilhava aquela visão enquanto pegava uma corzinha naquele sol de queimar o coco e me refrescava com uma dessas bebidas caribenhas colombianas tropicais.

- Quem te viu quem te vê, hein, mona? O que um corpinho novo na nossa vida não faz né? Pode desembuchando logo hein... – era Lili que me colocava na parede.

Resolvi então não esconder mais o jogo e contei tudo o que tinha acontecido na noite passada para as minhas fiéis escudeiras. Revelei até mesmo que eu tinha bancado uma de Sherlock Holmes e tinha dado uma espiadinha na vida virtual do Pedro.

- Eu não acredito que você foi fuçar nas coisas do Pedro?! Você não prometeu dar um tempo nessa história? – Betina brigava comigo pela quebra da promessa.

- Eu que não acredito que você não beijou aquele negão maravilhoso????!!!! – precisa dizer que era a Lili?!

- Calma, amadas! Foi uma noite realmente fantástica sabe? Tem alguma coisa mágica nesse lugar que me fez olhar para mim. Eu não vou me enganar fingindo que eu não estou sofrendo com tudo isso, mas também vou me dar uma oportunidade.

- Assim que se fala, garota! Olha só esse mar, esse lugar...vai ficar perdendo tempo choramingando? – era Betina que levantava o meu moral.

E para recuperar as lágrimas perdidas, resolvi ir desbravar aquela pequena ilha sozinha porque a Lili preferiu ficar de bunda para o sol pegando um bronzeado e a Betina ficou lendo um livro. Bastaram alguns passos ilha adentro para perceber que eu não estava tão sozinha assim como eu queria ficar. Um dos milhares vendedores locais de colares-artesanatos-e afins , que trabalhavam na ilha, resolveu me perseguir. Me assustei um pouco no começo com a aproximação, achando que ele poderia me comer viva (em ambos sentidos), mas logo percebi que ele só queria ser simpático e cordial – coisa bem comum naquela ilha.

- Vai conhecer a ilha? – perguntava o vendedor. – Prazer, Jose! – dizia ele me estendendo cordialmente a mão – Melhor seguir por aqui. Eu te acompanho.

Que mal teria ter a companhia daquele pobre homem com sorriso cordial e surrado com a vida? Enquanto Jose me apresentava a ilha que conhecemos dando apenas 15 passos, ele aproveitou para me contar sua vida: morava na ilha em frente, fazia colares com pedras naturais pela noite e os revendia aos turistas pela manhã. Apesar da aparência de 50 anos, não passava dos 30. Tinha filhos e sustentava a família com o suor do seu trabalho. Também me surpreendeu que, apesar da vida dura, ainda mantinha um relacionamento. Ele era embarazado , como diziam, algo como tico tico no fubá.

- Você tem namorado? – perguntou ele.

Nossa, Jose, a conversa estava tão boa. Tinha que tocar nesse assunto sórdido?

- Não, eu não tenho. – respondi depois de repensar, repensar e repensar.

- NÃO?! Como uma mulher tão especial como você não tem namorado?! Olha o homem que ficar com você será muito sortudo porque você é muito especial.

Ai, gente, derreti. O humilde vendedor de colares me fez enxergar quem eu era com um elogio tão sincero e nobre. Realmente, eu sou muito especial. O azar não é meu de estar sem o Pedro e sem o Pierre e sim deles por estarem sem mim. O que um mar azul e um lugar paradisíaco não faz com a gente né?

Como eu não podia e nem queria beijar Jose, agradeci a gentileza da companhia e do elogio comprando colares para mim e para as meninas e de quebra ainda ganhei um lindo colar vermelho que ele disse que era o colar do amor... e, claro, eu iria usá-lo naquela noite para ver se já atraía algum amor por lá.

***

- Nossa! Como você está linda! Nem parece a mesma muchacha da noite passada. – era Christian, gentil como sempre, me elogiando ao me ver pronta para cair em la noche Cartagena.

- Devo isso a você, muchacho! – deixei meu lado piriguete aflorar. – Estou afim de dançar uma salsa hoje e aí vamos?

- Gata, hoje eu vou ter que ficar até mais tarde. Infelizmente, não vou poder te acompanhar, mas tem uma festinha muito bacana num albergue parceiro nosso. Acho que vocês vão gostar. Divirtam-se.

Por alguns segundos, fiquei chateada que o meu príncipe negro não iria me acompanhar, mas rapidamente esqueci disso. A vontade de cair na gandaia falava mais algo e rumamos para o tal do albergue.

O lugar era simplesmente fantástico. Fizemos um esquenta no bar do albergue e, claro, tomei o meu mojito. Enquanto bebíamos, um grego – que ainda parecia cheirar leite – se aproximou de nós e foi logo se engraçando para o lado da Betina. O bebê grego estava viajando sozinho pela América Latina e estava hospedado no albergue. Depois de alguns mojitos a mais na cabeça, fomos para a festa que acontecia na cobertura do albergue sob a luz do luar. A noite já dava sinais de que ia ser boa.

A cobertura estava lotada. Gente do mundo inteiro estava ali tentando se comunicar de alguma maneira e o DJ tocava ragatton – o que chamamos de funk colombiano – uma música muy caliente e divertida. Aquela música tinha algum efeito afrodisíaco porque logo vi a Betina entrelaçada com o bebê grego dançando num cantinho qualquer.

Eu e a Lili dançávamos feito duas loucas e felizes no meio da pista. Pouco me importava se olhavam para mim e não olhavam porque cada um era feliz do jeito que sabia ser. Até que dois rapazes, com cara de que eram colombianos, se aproximaram e começaram dançar o tal do ragatton com a gente. No começo fiquei um pouco envergonhada, mas não demorou muito para que eu entrasse no clima. Dançamos várias músicas sem parar. Eu estava hipnotizada com aquela dança, aquele contato físico, aquele suor que caía do meu e do rosto do muchacho colombiano, com o olhar que a gente trocava enquanto dançava... meu Deus, que dança é essa!!!

- Lili, isso aqui é o paraíso minha amiga!!!

- Você ainda não viu nada, Diana! Poxa, fico tão feliz de te ver assim sorrindo novamente. Essa sim é a minha Diana – me abraçava Lili.

- Te amo sua louquinha!!! - eu retribuía o abraço num daqueles momentos de mela cueca entre amigas que, nós, mulheres entendemos muito bem.

- Epa, eu quero participar também hein? – era Betina que se aproximava toda descabelada.

- Apareceu margarida? Cadê o grego?

-Ai, eu estou fugindo dele, gente, o menininho tá com os hormônios a flor da pele...eu preciso respirar...não tenho mais idade para essas coisas.

Caímos na risada e começamos a dançar a próxima música que, naquele minuto, elegemos como o hino da nossa amizade e juramos mais uma vez amor eterno. Pulávamos feito três doidas abraçadas no meio da balada. Momento crazy total!!

Lá pelo meio da madrugada, quando eu aproveitava para tomar uma fresca encostada no muro da cobertura e admirando a cidade, o tal colombiano que tinha dançado comigo se aproximou. Me ofereceu uma cachaça colombiana que, de início fiquei com medo de ser algum tipo de boa noite Cinderela, mas depois virou a bebida dos deuses. E foi graças a bebida dos deuses que eu fiquei facinho, facinho...dancei várias músicas com o tal colombiano sem nome , no silêncio do nosso relacionamento, roubei um beijo dele.

***

- Uhu!! Ninguém dorme hein??? – gritava Lili descalça com os sapatos nas mãos enquanto voltávamos para o albergue na calada da noite.

- Eu não dormiria jamais se morasse nessa ilha maravilhosa. Esse lugar é mágico só pode ser... – eu dizia com a cabeça um pouco tonta.

- Safadinha hein? E o cartageno hein? – perguntava Betina que também trançava as pernas e ainda segurava uma garrafa de cachaça colombiana nas mãos – presente do cartageno.

- Não sei o que me deu. Aquele calor, aquela música, aquela dança, corpo com corpo, olho no olho... só sei que eu ataquei. Fui lá e roubei um beijo e pronto. – eu confessava.

- Ai, que tudoooooo!!! – berrava Lili – E o que é que o cartageno tem hein?

- Nada demais. O beijo do Pedro é bem melhor – por um instante me lembrei dele.

- Ih, amiga. Esse nome aqui na Colômbia está proibido ok? PROI-BI-DO... – dizia Lili escorando em mim em meio a gargalhadas e soluços.

- Putz. Perdão. Pedro tá mortinho e enterrado. E não se fala mais nisso ok?

Voltamos para casa em meio às nossas gargalhadas que deviam ter acordado a ilha inteira, cantando, dançando, soluçando, bebendo cachaça colombiana e, acima de tudo, sendo muito feliz. E mais feliz ainda eu fiquei quando cheguei no albergue e o meu negão colombiano maravilhoso estava na recepção. As meninas saíram dando risinho pela culatra, mas eu fui barrada por aquele paredão de homem.

- Quase fui te buscar.

- Ihhhh...relaxa, baby. Sei cuidar de mim viu? – eu disse revelando que não estava nada sóbria.

- Pelo visto, a balada foi boa?

- Ótima!!! Mas seria melhor se... se... se... você estivesse lá!!! – pronto, falei!!

Aproveitei o meu momento piriguete da noite e xavequei o homem.
Christian me olhou como quem não esperava aquela resposta, mas logo abriu o seu sorriso encantador. Ele então foi se aproximando de mim, olhos nos olhos, respiração ofegante, o silêncio a nossa volta, lábios prontos para serem selados e... a campainha do albergue tocou e fomos interrompidos pelo grupo de australianos que chegavam da balada. Mais uma vez, a bola foi na trave.

- Boa noite!!! A gente termina aquele assunto amanhã... – me despedi dando um beijo demorado e molhado no rosto dele e fui para a cama dormir naquela manhã que já estava
chegando. Feliz e decidida a marcar logo aquele gol no dia seguinte.

... CONTINUA

3 comentários:

Anônimo disse...

adorei!

je disse...

fui pra ilhazinha junto com as meninas
hehehehehe

Mel Silva disse...

Ai ai ...

Continuação por favor.

Super me senti na pele da Diana, não tem coisa melhor pra curar depressão.